domingo, 22 de agosto de 2010

Sobre a importância do não



“Hitler pode ter perdido a guerra no campo de batalha, mas terminou ganhando algo”, diz M. Halter. “Porque o homem do século XX criou o campo de concentração e ressuscitou a tortura, e ensinou aos semelhantes que é possível fechar os olhos para as desgraças dos outros”.

Talvez ele tenha razão: existem crianças abandonadas, civis massacrados, inocentes nos cárceres, velhos solitários, bêbados na sarjeta, loucos no poder.

Mas talvez ele não tenha nenhuma razão: existem os guerreiros da luz, que jamais aceitam o que é inaceitável.

As palavras mais importantes em todas as línguas são palavras pequenas. “Sim”, por exemplo. Amor. Deus. São palavras que saem com facilidade, e preenchem espaços vazios em nosso mundo.

Entretanto, existe uma palavra – também muito pequena – que temos dificuldade em dizer.

“Não”.

E nos achamos generosos, compreensivos, educados. Porque o “não” tem fama de maldito, egoísta, pouco espiritual.

Cuidado com isto. Há momentos em que – ao dizer “sim” para os outros, você está dizendo “não” para si mesmo.

Todos os grandes homens e mulheres do mundo foram pessoas que, mais do que dizer “sim”, disseram um NÃO bem grande a tudo que não combinava com um ideal de bondade e crescimento.

Os guerreiros da luz se reconhecem pelo olhar. Estão no mundo, fazem parte do mundo, e ao mundo foram enviados sem alforge e sem sandálias. Muitas vezes são covardes. Nem sempre agem certo.

Os guerreiros da luz sofrem por bobagens, se preocupam com coisas mesquinhas, se julgam incapazes de crescer. Os guerreiros da Luz de vez em quando se acreditam indignos de qualquer benção ou milagre.

Os guerreiros da luz com frequência perguntam o que estão fazendo aqui. Muitas vezes acham que sua vida não tem sentido.

Por isso são guerreiros da luz. Porque erram. Porque perguntam. Porque continuam a procurar um sentido. Mas, sobretudo, porque tem capacidade de dizer “não” quando está diante de coisas que não pode aceitar.

Muitas vezes podemos ser chamados de intolerantes, mas é importante se abrir, e lutar contra tudo e contra todas as circunstâncias, se estamos diante de uma injustiça ou de uma crueldade. Ninguém pode deixar que, no final, Hitler tenha estabelecido um padrão que pode ser repetido porque as pessoas são incapazes de protestar. E para reforçar esta luta, é bom não esquecer as palavras de John Bunyan, autor do clássico “Pilgrim’s Progress”:

“Embora tenha passado por tudo que passei, não me arrependo dos problemas em que me meti – porque foram eles que me trouxeram onde desejei chegar. Agora, já perto da morte, tudo que tenho é esta espada, e a entrego para todo aquele que desejar seguir sua peregrinação”.

“Levo comigo as marcas e cicatrizes dos combates – elas são testemunhas do que vivi, e recompensas do que conquistei. São estas marcas e cicatrizes queridas que vão abrir as portas do Paraíso para mim”.

“Houve época em que vivi escutando histórias de bravura. Houve época em que vivi apenas porque precisava viver. Mas agora vivo porque sou um guerreiro, e porque quero um dia estar na companhia Daquele por quem tanto lutei”.

Enfim, cicatrizes são necessárias quando lutamos contra o Mal Absoluto, ou quando precisamos dizer “não” a todos aqueles que, às vezes com a melhor das intenções, procuram impedir nossa caminhada em direcção aos sonhos.

Paulo Coelho

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Segunda infância

À tua palavra me acolho, lá onde

o dia começa o corpo nos renasce...


Regresso, recém-nascido, ao teu regaço,

minha mais funda infância, meu paúl...


Voltam, e novo, as folhas para as árvores

e nunca as lágrimas deixaram os olhos...


Nem houve céus forrados sobre as horas,

nem míseras ideias de cotim

despovoaram alegres tardes de pássaros...


O sol continua a ser o único

acontecimento importante da rua.


Eu passo, mas não peço às árvores

coração, para além dos frutos...


Tu és ainda o maior dos mares

e embrulho-me na voz com que desdobras

o inumerável número dos dias!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Was so good to sleep in the corner

Para mim, foram muito poucas as vezes em que adormeci aconchegadinha no teu abraço. Aquele cantinho criado entre o teu ombro forte e o teu peito macio parecia ter sido desenhado a pensar em mim. Era o encaixe perfeito, onde eu me sentia forte, amparada e segura de que era importante para ti. Não havia lugar melhor no mundo onde eu preferisse estar. E aquelas horas que ali ficávamos, tu a perderes os autocarros só para não me deixares… O mundo podia desabar, porque era assim que nos iriam encontrar. Sempre abraçadinhos um ao outro.

Não sei exactamente o que se passou, nem o que significou. Umas vezes, parecias tão seguro de ti, mas noutras já te apresentavas com as maiores dúvidas na humanidade. De cada vez que estava contigo, nunca sabia se iria acontecer ou não. O meu sentimento por ti…esse nunca se alterou. De cada vez que te sentia longe, decidia que te tinha de levar ao esquecimento. Pois, mas falar é fácil... e quanto mais pensava em te esquecer, mais vezes acordava na manhã seguinte a pensar em ti e no nosso “cantinho”.Nunca fui de me arrepender de nada nesta vida, mas de facto, a única coisa que eu faria se pudesse voltar atrás era a pergunta que deveria ter feito naquele mesmo momento, que pensei que não fosse o certo. Mas porque é que não tive coragem de deixar falar o coração? Porque é que também não foste certo do que querias? Porque é que não cresceste a tempo de o perceber? Quando te despediste, pensei mesmo que ia conseguir…uma vez que por ti, tinha percebido que era o fim. Mas a verdade é que o tempo não parou de correr e as saudades são cada vez mais!

Quem me dera, com o passar do tempo, poder voltar ao cantinho.

sábado, 7 de agosto de 2010

claustrofobia

Uma,… duas,… três,…quatro! Quatro horas ainda não dormia, desde que tinha decidido ir para aquele que é para uns o conforto, mas para uma minoria um sacríficio. Mas esta já prometia ser uma daquelas noites, iguais a tantas últimas destes derradeiros dez anos. As letras do livro apareciam desfocadas, o filme parecia incrivelmente aborrecido e o zzzzzzzzzz do raio do mosquito…nada fazia com que conseguisse dormir! As primeiras horas até foram passando, trocando mensagem com este que se lembra de nós passado tanto tempo que até parece milagre (é bom saber que há quem se lembre de nós antes de adormecer!) e com aquele outro com o qual, se não as trocássemos, não seríamos as mesmas pessoas! Parece que só o copo de leite acabado de sair do frigorífico, nos ajuda a passar melhor a noite. (Engraçado que até isso uma cidade consegue mudar…odiava leite frio até ir para a grande cidade académica! J )

Mas depois de andar um dia inteiro aborrecida, era obviamente óbvio que a noite não ia ser propriamente bem passada. Aquela sensação de claustrofobia… de querer fugir de tudo e de todos. Mais um dia fechado nesta casa que nunca me parecera tanto uma masmorra como agora, pôs-me ainda mais com o desejo de “cair fora”. Estou cada vez mais farta desta cidade. E o mais engraçado é que só cá estou há 18 dias. Este cheiro a turista de garrafão vindos do tão perto Famalicão e Guimarães (sem ofensa Tiago :p), outros que são “avecs” do Paris de França, as miúdas que tentam exibir o que não têm, os gunas desesperados pelo que não vêem…só situações!!! Quero sair…mas não tenho com quem. Obviamente que uns com as férias de família, outros com os namorados e outros que vão dar os seus passeios… obviamente que todos tentam aproveitar ao máximo para o convívio, bronze e até para trabalhar. A acrescentar isto tudo, as saudades apertam cada vez mais! Nem as aulas de TED conseguiam ser tão entediantes. O desejo de sair i/emigrar é tão grande, mas possibilidade de voar é tão baixa. Tudo pela falta daqueles pequenos pechisbeques que mais parecem botões de ouro.

Mas as coisas hão-de se resolver e esperemos sinceramente que em Setembro possa estar de volta à grande vivência de cada ano. J

10 things I hate about you


I hate the way you talk to me,

and the way you cut your hair.

I hate the way you drive my car,

I hate it when you stare.

I hate your big dumb combat boots

and the way you read my mind.

I hate you so much it makes me sick,

it even makes me rhyme.

I hate the way you're always right,

I hate it when you lie.

I hate it when you make me laugh,

even worse when you make me cry.

I hate it when you're not around,

and the fact that you didn't call.

But mostly I hate the way I don't hate you,

not even close,

not even a little bit,

not even at all.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010