Was so good to sleep in the corner,
There was no better place on earth I'd rather be.
Was so good to sleep in the corner,
There was no better place on earth I'd rather be.
Estava com ideias de me deitar cedo, porque o cansaço era demasiado. De repente, … parei tudo o que estava a fazer, deixei a minha maninha pendurada ao telefone assim que ouvi as primeiras notas que trinavam nas cordas de uma tão delicada guitarra. A que na minha opinião é a melhor música de todos os tempos tocada pelo grande mestre da guitarra portuguesa, “Verdes Anos”, ecoava do lado de lá da minha janela. Quem a tocava sabia que assim o era e o significado que teria para mim. Como da janela, não conseguia ver o que se passa, largo e tudo e desço a abrir a porta… e a confusão total! Não sabia se rir, se chorar! Mas a emoção foi tal que as lágrimas logo vieram aos olhos. Quatro estudantes envergando o traje da maior academia do país, com as suas capas traçadas faziam uma serenata. À sua volta, estavam as pessoas mais fantásticas do mundo. Até os que não estavam presentes fisicamente se faziam sentir. O meu grau de tremura já é demasiado, mas ali parecia que o chão me saía dos pés ( estava em grau 7 na escala de Richter). Nem de pé conseguia estar. Chegou a certa altura, que a emoção era tanta que já nem as lágrimas conseguiam sair. Não tinha palavras… queria falar e não conseguia! Foi a maior surpresa do maior ovo Kinder que alguma vez podia ter na vida. Todo o plano engendrado ao pormenor… Depois de abracinhos e agradecimentos a todos, deram-me a melhor noite que alguma vez poderia ter tido com direito a massagem e tudo.
Após vinte anos a viver numa terra com o privilégio de ser banhada pelo grande azul, nunca me tinha dado para passar a noite na praia. Até isso eles me deram…uma grande noite de lua cheia, na qual a sua luz intensa era reflectida nas águas e tornava tudo ainda mais mágico. Desde os jogos de volei e rugby, aos jogos de areia, à sessão de fotografias, aos ataques de cócegas, às parvoíces…parecia tudo saído de um sonho! A melhor noite sem dúvida dos últimos 20 anos. Nunca fui tão feliz num dia de anos…nem quando fiz uma festa no Mc Donald’s ou quando recebi o livro que tanto queria, porque nunca tinha recebido uma encomenda tão grande de amizade. Acho que cheguei mesmo a apanhar uma overdose dessa simples palavra que é tanto!
Desde a directa de uma noite inesquecível, de uma açorda da avozinha que por incrível que pareça hoje me soube bem (e só eu sei como odeio açorda), ao lanchinho na esplanada da clássica pastelaria com velhos amigos… tudo perfeito! É pena só haverem coisas que nunca mudam, mas pronto…
Só vos quero deixar umas simples palavras, uma vez que não sei como vos hei-de agradecer. Espero que saibam, que aqui a coração de pedra que nunca chora, fartou-se de verter lágrimas por vossa causa…lágrimas de felicidade como é óbvio!! Aliás, escrevo com o teclado molhado das gotas de contentamento que os meus olhos não param de deitar! Penso, que choro com o coração.
Vocês são sem dúvida as pessoas mais fantásticas que alguma vez passaram na minha vida! Nunca na vida, e por mais desconfiada que seja, pensei que me fizessem uma coisa dessas… foi a coisa mais magnífica que alguma vez assisti…e podem ter a certeza que nunca mais, nem que venha a ter Alzheimer, se apagará de mim…porque um coração nunca esquece. Longe ou perto, independentemente do que o futuro nos reserve, vou levar-vos para sempre comigo..a vós e as nossas maluqueiras, que sem elas não éramos felizes. Se alguma vez tive dúvidas quanto ao conceito de amizade e de amigos, hoje essas dúvidas desvaneceram-se todas. Tudo ficou claro e cheguei à brilhante conclusão que já não sei viver sem vocês. A importância descomunal que têm na minha vida… não tem descrição. Dos grandes aos pequenos, dos preversos aos santinhos, dos broeiros aos mais tímidos, de norte a sul (e arredores, como o norte de África J)…todos têm em mim uma parte de vós. Porque no fundo eu sou feita de vós. Até aos meus paizinhos que conspiraram com vocês, um muito obrigada por me terem educado e aturado durante estes 20 anos, aos quais devo toda a minha vida. Podia estar aqui a encher 20 páginas com MILHÕES DE OBRIGADAS!, mas acho que já perceberam o que quis dizer… aliás nem consigo arranjar palavras nem para descrever, nem para agradecer. Simplesmente, acho que não o merecia, mas pronto. E como já gastei 3 lenços com a choradeira, acho melhor ficar mesmo por aqui.
Quero dizer-vos só mais uma coisa…. AMO-VOS a todos sem excepção! E mais uma vez, e porque acho que não disse as vezes suficientes durante a noite, VOCÊS NÃO TÊM JUIZO!!
Um muito obrigada :’)
Quando ao primeiro macaco lhe apetecia trepar a uma bananeira e apanhar uma banana madurinha, ao segundo macaco apetecia a mesma coisa. E, zás!, os dois ao mesmo tempo trepavam pela árvore acima.
Um dia aconteceu o que era de esperar. Os dois macacos atiraram-se à mesma banana. Esta escorregou-lhes das mãos e caiu em cheio dentro da boca da zebra, que estava a olhar para eles.
A zebra deitou a fugir e os dois macacos correram atrás dela, mas a zebra corria mais e desapareceu no mato, escondendo-se entre as folhas raiadas como o seu pêlo.
- Uff! – exclamou o primeiro macaco sem quase poder respirar. – Estou morto de sede.
- Uff! – exclamou o segundo macaco. – Também eu!
De mão dada, correram para o rio. Mas a margem estava tão lamacenta que o primeiro macaco escorregou. Chap! E, arrastando o companheiro, caiu à água… mesmo ao pé de um grande crocodilo que tinha a boca aberta.
A toda a pressa, os dois macacos saíram da água… mas o que tinha arrastado o amigo só conseguiu escapar deixando um bocado do rabo na bocarra do crocodilo.
Ficou tão furioso que, quando o outro macaco declarou: «Não acho lá muito agradável apanhar uma dentada de crocodilo», não respondeu como de costume: «Também não acho».
Pelo contrário, exclamou:
- Não acho nada agradável ser tão parecido com outro como duas gotas de água, fazermos ambos sempre o mesmo…e, principalmente, termos pensamentos iguais, pois isso traz-nos sempre arrelias.
Dizendo isto, afastou-se amuado e foi para detrás de um grande penedo. Mas quando o rabo deixou de lhe doer, principiou a sentir-se muito só.
E ficou todo contente quando o amigo apareceu e lhe propôs fazerem as pazes.
Mas assim que o primeiro macaco lhe disse: «Apetece-me ir apanhar morangos para o jantar», não respondeu: «Também a mim.» Volveu, pelo contrário:
- Apetece-me ir buscar açúcar e natas frescas para comer com os morangos que tu desejas apanhar.
- Que bela ideia! – disse o primeiro macaco. – Assim é muito melhor!
E, dali em diante, os dois macacos nunca mais tiveram arrelias, porque os pensamentos de um completavam, felizmente, os pensamentos do outro.
Ser só para sonhar e para ver este espectáculo único – a natureza; para passar os meus dias vendo as transformações duma daquelas árvores que daqui contemplo!...
Tenho a certeza de que fui árvore e é por isso que tanto as amo.
Há livros que falam baixinho, há livros que falam alto. Uns têm por si o encanto, outros a força. Às vezes as palavras murmuradas impressionam mais: passado tempo ainda elas acordam em nós fibras adormecidas.
Porque é que a água, até o mais humilde charco, atrai e faz sonhar os homens contemplativos?
Quanto mais desprezo o homem, mais amo a natureza. Ela é inalterável.
O homem prende-se a muitas coisas inúteis: a riqueza, a ambição, interesses mesquinhos: vive emaranhado numa teia. De forma que não tem tempo de ver, nem de ouvir, nem de conhecer. Quantas criaturas existem que nunca olharam para o céu? A natureza, árvores, montes, rios, esse pélago que entrevejo do meu quarto deixa-os indiferentes, as horas de preguiça e sonho deixam-nos indiferentes. Nunca tiveram tempo para amar as coisas simples e grandes da vida. O que é eterno não o viveram. Por mim, antes quero comer pão e cismar, deixar correr as minhas ideias como um regato corre - até onde tem água. Alguns morrem sem terem reparado que existiram.
É por isso que eu corto sempre com tudo o que me não deixa sonhar.
Raul Brandão “ os pobres II”
Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: espanta e aturde quem nele cai; mas, logo que o ouvido liberta dos sons fortes, aprende a conversar com a mudez; tanto que os olhos, desfocados dos luzeiros intensos, se exercitam em caçar visões de raios, fosforescências indecisas, que são como que os cílios das trevas, abriu-se o negrume em brilhantismo, o silêncio avivou-se de diálogos, a solidão, que parecia o nada, é um mundo novo com um sistema completo de existências imprevistas e apropriadas.
Que admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos alimentam-se do que lhes oferecem a natureza, a fortuna, o acaso; a divindade interior, a alma, tem tratos inexplicáveis com o íntimo e desconhecido.
[…]
Boníssima solidão! Tu és para a sociedade o que as tuas montanhas são para os vales: nas tuas entranhas se filtram, dos teus recôncavos rebentam os génios possantes e profundos que vão derramar por longe a fertilidade. Mas tu não és só mãe às torrentes caudais: uma fontinha entre lapas, desconhecida, não se goza menos do teu favor. Sobre o pouco libertas dons, como sobre o muito; prudente para o imenso, prudente para o limitado. Solidão, inspiradora de todos os visionários, de todos os descobridores, de todos os inventores! Solidão, ninho das rolas como das águias, perdoa, se eu não sabia ainda apreciar-te!
António Felicidade de Castilho, “ A chave do enigma”